Vencendo desafios


“A verdadeira medida de um homem não é como ele se comporta em momentos de conforto e conveniência, mas como ele se mantém em tempos de controvérsia e desafio.”
(Martin Luther King)

Dando continuidade a nossa série sobre superações, quero compartilhar com vocês algumas das minhas experiências no mercado de trabalho:

Como todos sabem existe a lei de cotas, lei esta que exige uma porcentagem de vagas nas empresas destinadas a portadores de deficiências. Mas apesar dela existir, ainda é muito grande o preconceito e a falta de informação de muitos em relação a portadores de deficiência. Algumas pessoas acreditam que deficientes não podem e não conseguem desenvolver funções no mercado de trabalho.

Ao longo da minha procura por emprego me deparei com muitos destes casos. Pessoas as quais me julgaram incapaz de desenvolver seja qualquer tipo de trabalho. Ouvi cada pergunta em entrevistas que só não ri na hora porque realmente não podia e por também compreender a enorme falta de informação.
Mas também chorei após muitas dessas entrevistas, onde fui totalmente
Discriminada.

Já perdi a conta de quantas vezes ouvi expressões como: “Sinto muito, mas você não conseguiria desenvolver esta função.” Ou “Que pena, mas essa vaga não dá mesmo pra você!” Mas a pior que ouvi em várias situações foi: “Realmente nem tenho idéia de como trabalhar com uma deficiente visual”
Eram frases como essas que acabavam com o meu dia e que me colocavam no fundo do poço.
Muitas vezes perguntava a Deus o por que dessas situações, o por que tinha que ser assim comigo, por que era tudo tão mais difícil Pra mim?
Afinal, eu já havia concluído o ensino médio, já havia me especializado em vários cursos profissionalizantes de informática e de idiomas.
Eu não me sentia uma pessoa despreparada no mercado de trabalho, e realmente o que mais doía era perceber que as pessoas não me davam oportunidades pelo fato de possuir uma deficiência.

Depois de muita procura, encontrei meu primeiro emprego, o qual trabalhei durante dois anos como recepcionista em uma instituição filantrópica.
Foi um tempo o qual cresci muito e aprendi muitas coisas também. Conheci pessoas maravilhosas as quais até hoje são minhas amigas.
Porém, nesta minha primeira experiência profissional, tive que lidar cara a cara com o preconceito. A fundadora dessa instituição, uma senhora já com seus oitenta anos não se conformava que haviam contratado uma deficiente visual como recepcionista do lugar fundado por ela. Foram muitas as vezes que ela me humilhou perante outras pessoas, dizendo que eu era uma “coitada” e que certamente não conseguiria exercer o cargo. Muitas vezes chegou a pedir pra funcionários da limpeza fazer ligações para ela, só para não ter que pedir pra mim. Afinal, ela não aceitava que uma deficiente visual poderia ajudá-la em alguma tarefa.
Nem preciso dizer o quanto isso me entristecia, só Deus sabe quantas lágrimas derramei por causa dela. Mas a Palavra de Deus nos garante que se somos humilhados e permanecemos fiéis em oração e perdão, somos exaltados por Deus no tempo exato.

Foi exatamente o que aconteceu, aos poucos ela foi mudando o comportamento dela em relação a mim, e quando saí deste lugar após os dois anos de trabalho e experiências adquiridas, essa senhora me pediu perdão por todas as vezes que ela havia me magoado e disse que era uma pena eu estar saindo, pois eu era uma ótima funcionária e havia desenvolvido meu trabalho muito bem durante todo aquele tempo.

Saí dessa instituição muito feliz com tudo o que havia aprendido e vivido naquele tempo. Agora já me sentia mais forte para enfrentar seja qual fosse o grau de preconceito.

Após dois meses em casa comecei a trabalhar em uma academia como recepcionista também. E confesso que foram dois anos maravilhosos da minha vida! Só saí de lá porque realmente precisava encontrar um horário melhor e buscar um crescimento profissional. Nesta academia vivi novas experiências, aprendi muitas coisas e me senti muito valorizada como profissional. A dona da academia separava todo o dinheiro para mim em montinhos diferenciados na gaveta, para me facilitar no troco. Assim eu recebia todas as mensalidades das aulas, voltava o troco e cuidava de muitos assuntos relacionados a academia. Não tive nenhum problema quanto as minhas tarefas durante o tempo em que estive lá.
Pelo contrário, só cresci, só me tornei alguém mais completa por ganhar tantas experiências e amizades verdadeiras.

Assim que saí da academia passei novamente por uma maratona de entrevistas na busca de um novo emprego. E novamente mais frustrações, mais lágrimas, mais preconceito com aquele repertório já ouvido antes.

Então comecei a trabalhar em uma farmácia, a qual já relatei aqui no blog. Permaneci um ano frustrada em um lugar onde haviam me contratado somente para cumprir a lei de cotas e que não aprendi nada. Mais uma vez vivi em meio ao preconceito de pessoas as quais me julgavam incapaz de desenvolver alguma função.
Enquanto estive lá continuei procurando algo novo, continuei acreditando que não poderia parar perante aquela situação de frustração e complexo, pois eu não era uma incapaz, nem uma inútil.

E quando batemos insistentemente em uma porta, em algum momento ela se abre. Quando buscamos, encontramos. Quando não desistimos de tentar, alcançamos!

Hoje tenho vivido a melhor fase da minha vida. Estou trabalhando em uma empresa onde tenho adquirido muitas experiências, tenho aprendido muito e crescido profissionalmente. Estou cursando a faculdade de psicologia, curso que eu sempre sonhei. Estou me sentindo realizada em tudo o que tenho feito. Na verdade hoje entendo que para chegar aqui, foi necessário essa longa caminhada, foi necessário atravessar vales profundos e escalar altas montanhas. Compreendo que cada situação vivenciada serviu para me mostrar que existe um Deus que luta pelas minhas causas, e que independente do que as pessoas possam pensar a meu respeito, Ele me ama do jeitinho que eu sou! É Ele quem me capacita e me faz prosseguir!

E perante essa verdade, fica mais fácil então compreender que as dificuldades nos moldam, com o propósito de nos tornar mais maduros e mais corajosos.

Eu sei que durante o meu caminho ainda derramarei lágrimas, ainda encontrarei com certeza situações as quais terei novamente que vencer o preconceito.
Mas estou certa de que todas as vezes que eu chorar, as minhas lágrimas regarão a minha fé e me conduzirão a vencer seja qual for a dificuldade.

Depois de alguns tropeços aprendemos a caminhar com mais firmeza. Depois de algumas tempestades, aprendemos a esperar o arco-íris. Depois do doloroso inverno, aprendemos a desfrutar da primavera.
Assim é a vida. Nada é em vão, tudo o que enfrentamos nos ensina, nos aperfeiçoa, nos torna pessoas mais sábias, mais experientes, mais fortes, mais vivas!

"O que sobrevive não é necessariamente o mais forte ou o mais inteligente, mas, o que melhor se adapta.”
(CHARLES DARWIN)



Super beijo!

No caminho da superação


“É graça divina começar bem. Graça maior é persistir na caminhada certa. Mas a graça das graças é não desistir nunca.”
(Dom Hélder Câmara)

Olá amigos do blog!

Como prometido, aqui estou para dar continuidade a nossa série sobre superação.
Hoje venho contar um pouquinho da minha história, não por pensar que ela seja mais importante ou mais emocionante do que a história de cada um de vocês, mas por ter a certeza de que as nossas histórias quando compartilhadas, encorajam e edificam vidas, constituindo assim o grande livro que é a vida.

Assim que nasci os médicos já constataram o glaucoma em ambos os olhos. E então comecei ainda pequena uma maratona de cirurgias na tentativa de uma melhora.
Entre muitas cirurgias, perdi a visão do olho direito aos cinco anos.
Desde então minha mãe decidiu que não permitiria mais cirurgias, uma vez que a medicina não nos garantia a melhora e os riscos eram grandes, de perder os quinze por cento de visão ainda existente no olho esquerdo.
Após essa decisão começamos então a nos adaptar a realidade.
Fiz o pré em uma classe especial com mais doze crianças que tinham algum tipo de deficiência. Porém, quando fui para a primeira série minha mãe fez questão que eu estudasse em uma classe normal. Foi aí que surgiu a primeira dificuldade, pois a professora da sala não queria me ensinar, alegando que era impossível dar atenção a uma aluna deficiente entre quarenta crianças. Mas minha mãe não desistiu, procurou ajuda e falou com uma professora, fundadora da instituição para deficientes visuais aqui da cidade. Essa por sinal a orientou a me ensinar, Afinal, eu estava matriculada e Ela precisava encontrar uma maneira a qual pudesse se dedicar a mim.
Conclusão, mesmo sem gostar muito, minha professora foi obrigada a aprender a lidar comigo, pois não queria ser chamada na delegacia de ensino pela nossa reclamação.

Aprendi a ler e a escrever com letras ampliadas sempre com a ajuda da minha mãe.
Mas as dificuldades maiores vieram a partir da sétima série, quando sofri um descolamento de retina e minha visão que já era pouca se reduziu ainda mais. A essas alturas não conseguia mais ler nem escrever. Foi quando fui obrigada a aprender o Braille. E na verdade foi uma fase muito complicada. Uma adolescente que não se conformava em não poder mais ler e escrever como os outros, e que tinha que aprender algo totalmente diferente e que cai entre nós, não era fácil! Mas com muito choro e incentivo aprendi!

Embora sabia o Braille, meus três anos de ensino médio fiz sem ler e escrever, minha mãe e meus amigos liam para mim todo o material que eu recebia e as minhas provas eram todas orais.
Com muita dificuldade, mas também com muita ajuda de pessoas maravilhosas, conclui assim o ensino médio. Aprendi muito com cada situação vivenciada durante aquele tempo, briguei com alguns professores os quais não queriam se adaptar a minha dificuldade.

Jamais me esquecerei de uma professora de português a qual em meu primeiro dia de aula com ela, expliquei o meu caso, deixei que ela escolhesse a melhor maneira em que me aplicaria as provas, se seria oral ou em Braille. Passado alguns dias, em uma das suas aulas, ela pediu a classe que fizesse uma redação. E de repente falou em alta voz se direcionando a mim: “Quanto a você, não vá achando que vai passar nas custas de outros alunos, porque não vai viu mocinha!”
Naquele momento fiquei muito nervosa, afinal, o que eu não queria era justamente me dar bem à custa dos outros, pois eu já havia explicado tudo e colocado a opção nas mãos dela.
Após a aula conversei com ela e exigi então que eu só faria as provas se fossem orais, para que ela tivesse a certeza absoluta de que eu mesmo quem as tinha feito e que as notas que viesse a tirar seria pelos meus próprios esforços e méritos sem questionamentos e dúvidas. Durante aquele ano ela me aplicou todas as provas orais e Concluí a matéria dela com uma das melhores notas da sala, o que fez com que no último dia de aula ela me pedisse desculpas pelos julgamentos dela a meu respeito.

Essa foi uma das muitas situações em que tive que brigar, lutar e exigir os meus direitos. Não poderia parar perante dificuldades que pessoas estavam criando. Dependia da minha escolha: Enfrentar e encontrar um jeito ou parar de estudar utilizando a desculpa de que era difícil para mim, pois existiam muitos obstáculos e professores os quais não queriam me ensinar.

Então fiz a minha escolha! Escolhi continuar, vencer as dificuldades e preconceitos! E assim passei por essa fase vitoriosa!
Agora era caminhar rumo às próximas etapas da caminhada...

As dificuldades fazem parte da vida. Nem sempre a nossa caminhada é fácil. Muitas vezes precisamos trilhar por estradas repletas de obstáculos. São montanhas altíssimas, vales profundos os quais precisamos ultrapassar.
E é claro que durante essa caminhada sentimos medo, sentimos tristeza, sentimos o peso das dificuldades. Porém, não podemos parar, não podemos jamais desistir de chegar ao destino desejado.
O medo, sempre surgirá, mas a coragem também! A tristeza, ela pode até aparecer, mas a alegria vem ao amanhecer! O desânimo tenta nos vencer, mas a esperança renova as nossas forças!
Podemos até tropeçar, reduzir a velocidade, descobrir novas maneiras de trilhar por essa estrada que é a vida, mas a caminhada continua....

No meu próximo post continuarei compartilhando um pouco mais das dificuldades que encontrei ao longo do caminho, as quais aperfeiçoaram a minha fé e me fizeram crescer como ser humano.

Beijo com carinho!













O que nos cabe


Olá queridos!

Todos nós enfrentamos dificuldades ao longo da nossa caminhada. Alguns encontram dificuldades para encontrar um amor, para ter ao seu lado alguém especial para dividir a vida. Outros enfrentam a dificuldade financeira, demoram a encontrar um bom emprego, com um bom salário e vivem se desdobrando para descobrir um jeito de suprir suas necessidades. Ainda existem aqueles que por muito tempo convive com a dificuldade de se aceitar, de se encaixar nos lugares, na sociedade, na vida.

A verdade é que desde que nascemos enfrentamos diferentes dificuldades em cada nova fase. Nossos primeiros passos não foram fáceis, a primeira letra a ser escrita, as primeiras contas de matemática, as primeiras provas, o primeiro amor, o primeiro emprego.... Sem contar as segundas tentativas de tudo o que não deu certo na primeira vez.

Porém, precisamos aprender a superar cada dificuldade que aparece.
Eu, por exemplo, desde que nasci tive que aprender a superar a grande dificuldade de não enxergar. Como foi difícil meus primeiros anos na escola, minhas primeiras aulas de Braille, cada adaptação para cada nova fase.
Mas trinta anos se passaram, e com tantas dificuldades vieram as experiências. Quantas adaptações e superações!
Experiências as quais estarei compartilhando com vocês em minhas próximas postagens.

Resolvi trazer este tema de superaçção e aceitação após ouvir alguns relatos de pessoas que encontraram ao longo de suas vidas muitas dificuldades, mas que as superaram e as transformaram em ricas e lindas experiências.

Para dar início a essa série de posts, trago um texto fantástico de uma jornalista maravilhosa:

O que nos cabe

Quando a gaBI nasceu, a primeira coisa que o médico falou foi “Ela é perfeita”. Respirava, o coração batia forte, tinha todos os dedos, veio grande e rechonchuda, passou em todos os exames. Era minha filha, já amada e esperada antes de chegar, e só havia o que comemorar.

Por um bom tempo, a Gabi correspondeu à previsão do médico e às expectativas (minhas e de qualquer mãe) de ser o bebê ideal. Tinha cachos dourados, bochechas cor-de-rosa, dobrinhas deliciosas. Mamava feito bezerro, crescia fora da curva, raramente adoecia. Também tinha todos os problemas típicos: chorava com cólicas, acordava de madrugada, cuspia o espinafre. O que só a fazia mais perfeita – era, afinal, tudo o que uma mãe esperava.

Foi no jardim de infância que as diferenças apareceram. Ela passava muito tempo sozinha, não tinha a coordenação dos bebês da idade, não participava das atividades do mesmo jeito. “Parece que está em outro planeta”, ouvi da professora. Mal sabia que, a partir dali, essa seria a frase mais usada para descrever a minha filha, por qualquer pessoa que passasse mais de meia hora com ela.

Fomos a muitos neurologistas, pediatras, psicólogos e psicopedagogos. Enquanto ela ainda era pequena, diziam que não era nada: só o jeitinho dela, ia passar. Quando a escola começou pra valer, as diferenças ficaram maiores, e veio a época das desculpas emocionais: é porque ela não se adaptou à escola. É porque mudou de cidade. É porque é filha única de mãe solteira que trabalha fora o dia inteiro. E haja culpa para acreditar em tudo.

Foi depois de repetir dois anos na escola que finalmente encontramos quem nos esclarecesse. Muitos exames e testes depois, ouvi um diagnóstico que me tirou o ar e o chão. Meu bebê, a esta altura uma menina enorme, que viera ao mundo sob a marca de “ela é perfeita”, tinha um cérebro com defeito de fabricação. Que não funcionava como deveria, e, mesmo com os melhores estímulos, nunca atingiria a média da maioria das pessoas.

Nada na vida me doeu mais do que essa notícia. Não por saber que minha filha não é perfeita: ao contrário, a amo ainda mais, se é que isso é possível. O que partiu meu coração foi pensar nos “nãos” debaixo do diagnóstico. É que perfeição não é só cobrança. Perfeição também é sonho. É um monte de desejos que a gente tem e que, quando realiza, ajuda a determinar a vida que construímos e a moldar nossa felicidade. Claro que, assim como sonhos, certas ideias de perfeição são inalcançáveis. Mas a busca por elas também pode ser uma forma de esperança, para nos mover e inspirar a fazer mais e melhor.

Ao saber que ela não era mais aquela menina perfeita, sofri por pensar que então ela não poderia ter uma vida perfeita. Que as limitações reduziriam também suas possibilidades, seus sonhos – suas chances de felicidade.

Levou um tempo para que eu entendesse que, na verdade, o que essa descoberta mudava não era o futuro da minha filha. Ela continuava a mesma, com as mesmas qualidades, defeitos, manias. O mesmo jeito de olhar para mim quando faz besteira, o desgosto por pratos que levem fígado, a paixão por filhotes de cachorro. O que precisaria ser diferente, daqui para a frente, eram as nossas expectativas – isto é, as nossas ideias sobre perfeição.

A gente costuma pensar que perfeição é um padrão, uma receita que serve para todos. Ora, é como querer que todos calcem o mesmo sapato. Enquanto estamos na média (que, aliás, é calçar 36, para mulheres, e 41, para homens), parece possível. Mas, quando não há fôrma que lhe caiba, melhor encontrar outro jeito de dar seus passos do que sofrer a vida toda para se encaixar onde não dá.

Buscar essas outras maneiras – esses outros sapatos – não torna necessariamente mais fácil o caminhar. São montes de dificuldades, todos os dias. Mas os passos são mais tranquilos, e já não doem como antes. Assim, a gente sofre menos com o que não nos cabe, aproveita mais a paisagem – e suspeito que chega mais perto da felicidade.


Roberta Faria


Beijo nos corações!