No caminho da superação


“É graça divina começar bem. Graça maior é persistir na caminhada certa. Mas a graça das graças é não desistir nunca.”
(Dom Hélder Câmara)

Olá amigos do blog!

Como prometido, aqui estou para dar continuidade a nossa série sobre superação.
Hoje venho contar um pouquinho da minha história, não por pensar que ela seja mais importante ou mais emocionante do que a história de cada um de vocês, mas por ter a certeza de que as nossas histórias quando compartilhadas, encorajam e edificam vidas, constituindo assim o grande livro que é a vida.

Assim que nasci os médicos já constataram o glaucoma em ambos os olhos. E então comecei ainda pequena uma maratona de cirurgias na tentativa de uma melhora.
Entre muitas cirurgias, perdi a visão do olho direito aos cinco anos.
Desde então minha mãe decidiu que não permitiria mais cirurgias, uma vez que a medicina não nos garantia a melhora e os riscos eram grandes, de perder os quinze por cento de visão ainda existente no olho esquerdo.
Após essa decisão começamos então a nos adaptar a realidade.
Fiz o pré em uma classe especial com mais doze crianças que tinham algum tipo de deficiência. Porém, quando fui para a primeira série minha mãe fez questão que eu estudasse em uma classe normal. Foi aí que surgiu a primeira dificuldade, pois a professora da sala não queria me ensinar, alegando que era impossível dar atenção a uma aluna deficiente entre quarenta crianças. Mas minha mãe não desistiu, procurou ajuda e falou com uma professora, fundadora da instituição para deficientes visuais aqui da cidade. Essa por sinal a orientou a me ensinar, Afinal, eu estava matriculada e Ela precisava encontrar uma maneira a qual pudesse se dedicar a mim.
Conclusão, mesmo sem gostar muito, minha professora foi obrigada a aprender a lidar comigo, pois não queria ser chamada na delegacia de ensino pela nossa reclamação.

Aprendi a ler e a escrever com letras ampliadas sempre com a ajuda da minha mãe.
Mas as dificuldades maiores vieram a partir da sétima série, quando sofri um descolamento de retina e minha visão que já era pouca se reduziu ainda mais. A essas alturas não conseguia mais ler nem escrever. Foi quando fui obrigada a aprender o Braille. E na verdade foi uma fase muito complicada. Uma adolescente que não se conformava em não poder mais ler e escrever como os outros, e que tinha que aprender algo totalmente diferente e que cai entre nós, não era fácil! Mas com muito choro e incentivo aprendi!

Embora sabia o Braille, meus três anos de ensino médio fiz sem ler e escrever, minha mãe e meus amigos liam para mim todo o material que eu recebia e as minhas provas eram todas orais.
Com muita dificuldade, mas também com muita ajuda de pessoas maravilhosas, conclui assim o ensino médio. Aprendi muito com cada situação vivenciada durante aquele tempo, briguei com alguns professores os quais não queriam se adaptar a minha dificuldade.

Jamais me esquecerei de uma professora de português a qual em meu primeiro dia de aula com ela, expliquei o meu caso, deixei que ela escolhesse a melhor maneira em que me aplicaria as provas, se seria oral ou em Braille. Passado alguns dias, em uma das suas aulas, ela pediu a classe que fizesse uma redação. E de repente falou em alta voz se direcionando a mim: “Quanto a você, não vá achando que vai passar nas custas de outros alunos, porque não vai viu mocinha!”
Naquele momento fiquei muito nervosa, afinal, o que eu não queria era justamente me dar bem à custa dos outros, pois eu já havia explicado tudo e colocado a opção nas mãos dela.
Após a aula conversei com ela e exigi então que eu só faria as provas se fossem orais, para que ela tivesse a certeza absoluta de que eu mesmo quem as tinha feito e que as notas que viesse a tirar seria pelos meus próprios esforços e méritos sem questionamentos e dúvidas. Durante aquele ano ela me aplicou todas as provas orais e Concluí a matéria dela com uma das melhores notas da sala, o que fez com que no último dia de aula ela me pedisse desculpas pelos julgamentos dela a meu respeito.

Essa foi uma das muitas situações em que tive que brigar, lutar e exigir os meus direitos. Não poderia parar perante dificuldades que pessoas estavam criando. Dependia da minha escolha: Enfrentar e encontrar um jeito ou parar de estudar utilizando a desculpa de que era difícil para mim, pois existiam muitos obstáculos e professores os quais não queriam me ensinar.

Então fiz a minha escolha! Escolhi continuar, vencer as dificuldades e preconceitos! E assim passei por essa fase vitoriosa!
Agora era caminhar rumo às próximas etapas da caminhada...

As dificuldades fazem parte da vida. Nem sempre a nossa caminhada é fácil. Muitas vezes precisamos trilhar por estradas repletas de obstáculos. São montanhas altíssimas, vales profundos os quais precisamos ultrapassar.
E é claro que durante essa caminhada sentimos medo, sentimos tristeza, sentimos o peso das dificuldades. Porém, não podemos parar, não podemos jamais desistir de chegar ao destino desejado.
O medo, sempre surgirá, mas a coragem também! A tristeza, ela pode até aparecer, mas a alegria vem ao amanhecer! O desânimo tenta nos vencer, mas a esperança renova as nossas forças!
Podemos até tropeçar, reduzir a velocidade, descobrir novas maneiras de trilhar por essa estrada que é a vida, mas a caminhada continua....

No meu próximo post continuarei compartilhando um pouco mais das dificuldades que encontrei ao longo do caminho, as quais aperfeiçoaram a minha fé e me fizeram crescer como ser humano.

Beijo com carinho!













1 comentários:

Mônica Bilia disse...

linda e emocionante.

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